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“A Argentina está dando uma lição para o Brasil e para o mundo, de que ela sabe radicalizar no bom e no mau sentido”, afirma o comentarista José Genoíno, ex-presidente do PT, ao Brasil de Fato. “Ela [Argentina] radicalizou a crise da democracia liberal.”
Nesta edição do podcast Três por Quatro, o assunto foi a vitória do economista Javier Milei, do movimento A Liberdade Avança, nas eleições presidenciais na Argentina. O candidato de extrema direita, agora presidente eleito, venceu o ministro da Economia, o peronista Sergio Massa.
Na avaliação do convidado, José Maria de Souza Júnior, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), a vitória de Javier Milei não é surpreendente, mas “o que foi surpresa foi a diferença de percentual que acabou sendo significativo”, afirma.
Javier Milei derrotou Sergio Massa em 20 das 23 províncias e na capital Buenos Aires, com 6,4 milhões de votos. O presidente eleito teve cerca de 3 milhões de votos de vantagem.
A vitória de Milei acende um alerta para a América Latina. Segundo José Genoíno, ex-presidente do PT, a situação é “delicadíssima”, mas pode servir de lição para a esquerda: “a democracia Liberal, com a crise econômica, ela se radicalizou muito. Para a esquerda derrotar a extrema direita, só tem um caminho: radicaliza, apaixona, mobiliza, encanta e vai para as ruas para apresentar um futuro viável”.
Genoíno fez análise da campanha eleitoral que levou ao resultado do último domingo (19), na Argentina. No discurso de Milei, “ele sempre falava de um período em que a Argentina era poderosa, particularmente o século XIX, e ele buscava politizar a ideia da Argentina grande e de progresso, como uma maneira de transformar a crise numa mobilização do povo argentino”, afirma.
A vitória é expressiva considerando a tradicional corrente peronista no país. “Milei aparece como antissistema, mas, na verdade, ele não é antissistema. Ele defende o modelo, neo-liberal da radicalização das reformas econômicas sociais”, comenta o ex-presidente do PT.
Com a posse de Javier Milei em 10 de dezembro, a América do Sul terá 8 países com governos de esquerda e 4 de direita. “Você só enfrenta essa extrema direita com sucesso, se você for para ofensiva, se você for para o enfrentamento. Ficar no ‘bombonsismo’, pedindo desculpa, se escondendo, esse é o caminho da derrota”, declara.
Para José Maria de Souza Júnior, doutor em Ciência Política pela USP, a polarização esquerda x direita é um resultado da desigualdade no continente sul-americano e no mundo: “a desigualdade faz com que grupos estejam, cada vez mais, antagônicos em relação aos mesmos temas. E aí a gente não consegue criar convergência sobre questões básicas, que muitas vezes a gente avança há muito custo”.
Novos episódios do Três por Quatro são lançados toda sexta-feira pela manhã, discutindo os principais acontecimentos e a conjuntura política do país.