A abordagem do conhecimento agroecológico propõe uma transformação em nosso modo de vida, voltada à sustentabilidade socioambiental e à justiça climática. Essa construção cotidiana, segundo movimentos e entidades do setor, combina as práticas e saberes de povos e comunidades tradicionais com os avanços de uma ciência comprometida com o Bem Viver e com a construção de uma sociedade mais agroecológica.

Celebrando 20 anos de existência, a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) é um dos espaços mais reconhecidos no Brasil e na América Latina na promoção do conhecimento agroecológico. Fundada em 2004, a ABA nasceu no campo científico e, ao longo de quase duas décadas, tem se fortalecido pela prática e pela militância agroecológica.

“Temos falado muito da agroecologia como ciência, movimento e prática. Eu gosto de dizer que poderíamos inverter esse tripé para prática, movimento e ciência. Por quê? Porque as práticas dos agricultores e agricultoras são históricas e se alimentam dos saberes tradicionais de povos indígenas e quilombolas. Como movimento, isso começou a se organizar no Brasil na década de 1990. E é somente no final dos anos 1990, início dos anos 2000, que o campo acadêmico passou a ser estruturado no país”, explica José Nunes da Silva, presidente da ABA, em entrevista ao programa de rádio Bem Viver.

A ABA reúne pessoas de diversas áreas do conhecimento e promove ações para a construção do conhecimento agroecológico. Com uma articulação interseccional e multidisciplinar, a associação organiza debates por meio de 12 Grupos Temáticos (GTs), que tratam de assuntos como agrotóxicos e transgênicos; campesinato e soberania alimentar; construção do conhecimento; cultura e comunicação; economia solidária; educação; infâncias; juventudes; manejo; mulheres; ancestralidades e saúde.

Esses espaços de debate mostram que, ao longo das décadas, a agroecologia foi além da defesa exclusiva, ainda que central, de uma alimentação saudável para toda a população.

“À medida que a agroecologia avança em outras dimensões, já não faz sentido ser apenas sobre alimentos sem veneno. Eles precisam ser alimentos sem veneno, sem opressão contra as mulheres e sem a exploração do latifúndio. É dessa forma que ampliamos e damos visibilidade à multidimensionalidade da agroecologia”, afirma José Nunes, professor do curso de Agroecologia na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

Além dos GTs, a ABA está organizada por territórios, valorizando a diversidade de realidades e saberes locais. A entidade também integra 126 Núcleos de Estudo de Agroecologia (NEAs), localizados em instituições de ensino de todas as regiões do país. Enquanto rede, a ABA faz parte da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), que promove espaços de intervenção e debate público.

Diante de desafios globais, como os impactos das mudanças climáticas e os alarmantes índices de fome, José Nunes defende o avanço do conhecimento agroecológico como uma solução sustentável para o futuro da humanidade.

“Somos parte da natureza. Então, como, vivendo em uma sociedade ultratecnológica, podemos reinterpretar isso e usar esses fundamentos como base para mudanças futuras? Pensamos que essa pode ser uma das últimas alternativas. Se não conseguirmos trazer esses valores para a releitura dos nossos modos de vida e, sobretudo, para nossas ações, pode ser que nos reste pouco tempo como civilização”, alertou José, ao anunciar a realização do Congresso Brasileiro de Agroecologia no próximo ano, antes da COP30, em Belém.

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Ficha técnica:
16-12-24 – PROGRAMA BEM VIVER
Veículo – Rádio Brasil de Fato
Tempo: 00:59:51
Apresentação: Afonso Bezerra
Roteiro: Daniel Lamir
Edição e Produção: Daniel Lamir e Douglas Matos.
Trabalhos técnicos: André Paroche, Lua Gatinoni e Adilson Oliveira
Direção de programas de Áudio: Camila Salmazio
Coordenação de Áudio e Vídeo: Monyse Ravena
Direção Executiva: Nina Fideles
Foto: Daniel Lamir