A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP), que ocorre anualmente desde 1995, é um dos principais fóruns globais para discutir a crise climática. Mas os avanços continuam longe do necessário, como demonstra o recente impasse sobre financiamento climático, durante a COP 29, em Baku, no Azerbaijão.

No encontro, países ricos comprometeram-se a repassar US$ 300 bilhões anuais aos países em desenvolvimento até 2035. A reivindicação dos países em desenvolvimento era US$1,3 trilhão de dólares anuais.

Gerson Borges, representante da Via Campesina Brasil no evento, avalia de forma crítica o desfecho da edição deste ano da COP e afirma que, na verdade, o chamado financiamento climático, que deveria atuar na proteção aos países mais afetados pelas mudanças climáticas, acaba por fim asfixiando as nações.

Ele destaca que é deixado em segundo plano a informação de que a maior parte desses valores chega em forma de empréstimos, ampliando dívidas já existentes.

“Esses 300 bilhões de dólares repassados aos países emergentes não são em forma de subsídio, a maior parte desse recurso é empréstimo com juros do Banco Mundial. Então, os países que recebem já são endividados, o financiamento aumenta a dívida que ele já tem. Não é uma contribuição dos países ricos. Na verdade, eles estão lucrando com esses empréstimos”, afirmou.

Borges criticou a formatação do evento. Além das negociações entre os Estados Nacionais, a COP também oferece intercâmbio entre empresas e organizações. A delegação brasileira, coordenada pela Apex – uma agência de comércio exterior ligada ao Ministério das Relações Exteriores – reuniu grandes empresas do agronegócio com painéis sobre sustentabilidade, o que para Borges indica uma contradição do evento.

“Ela não vai resolver o problema ambiental do mundo. Para nós discutirmos com seriedade os problemas ambientais, a gente tem que discutir o
modo de produção, a gente vive no modo capitalista. Esse é o nó. E ninguém discute isso nos fóruns da COP”.

Gerson Borges participou do podcast De Fato, produzido pelo Brasil de Fato RS, e falou também sobre a participação dos movimentos populares na COP29.

“Mas nós vivemos numa sociedade capitalista. As decisões da COP são ruins, mas, no mundo capitalista, é pior sem a ela. Então, a gente busca entender como ela funciona e busca influenciar em pequenas decisões”, conclui.

Trechos dessa entrevista estão na edição desta quinta-feira do programa Bem Viver no rádio. A integra do programa você consegue ouvir no tocador logo acima, perto do título desta matéria.

Ficha técnica:
12-12-24 – PROGRAMA BEM VIVER
Veículo – Rádio Brasil de Fato
Tempo: 01:00:20
Apresentação: Afonso Bezerra
Roteiro: Daniel Lamir
Edição e Produção: Daniel Lamir e Douglas Matos.
Trabalhos técnicos: André Paroche, Lua Gatinoni e Adilson Oliveira
Direção de programas de Áudio: Camila Salmazio
Coordenação de Áudio e Vídeo: Monyse Ravena
Direção Executiva: Nina Fideles
Foto: Divulgação/ONU